Seiko Made in Japan – MIJ x JDM – Japanese Domestic Market

As denominações Made in Japan e Japanese Domestic Market são alvos das mais diversas e curiosas discussões. Infindáveis tópicos debatem o assunto mundo afora e pouco consenso ou informação verídica podem ser filtrados de páginas e páginas de leitura entupidas de “achismos” e palpites.

Antes de entrar no assunto propriamente dito, faz-se necessário destacar uma característica cultural japonesa que influencia diretamente nosso tema e diverge bastante do que estamos habituados. Os japoneses têm um costume antigo de fazerem os melhores produtos para si, ao contrário do Brasil que sempre teve o hábito de exportar o que produz de melhor.

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Esses produtos são, de certa maneira, protegidos e reservados exclusivamente para serem vendidos dentro do Japão, como uma forma de valorizar o público interno. Às vezes fazem algo parecido para exportação, porém o  crème de la crème fica no país e acaba por ser denominado de produto destinado ao Mercado Doméstico Japonês, ou simplesmente JDM.

Essa prática ocorre entre os mais variados artigos, como carros, porcelanas, armas e também nosso queridos relógios. Com toda essa dedicação, um relógio JDM costuma possuir acabamento melhor, máquina superior, calendário em japonês e alguns detalhes únicos que o torna mais raro, valorizado e desejável. De maneira geral ele só é vendido dentro do Japão.

Seiko Prospex Turtle SRP775J1 – MIJ. Foto: @SeikoPhD.

Já os relógios denominados Made in Japan (MIJ) são um pouco mais polêmicos e complicados de se explicar. Ao pé da letra esses relógios seriam “feitos no Japão”, mas o que é algo feito no Japão? Se for desenhado e fabricado no Japão já seria um MIJ ou também precisaria ser montado no Japão? Discutimos esse assunto brevemente no review do Seiko Prospex Samurai SRPB53J1.

Ocorre que, em algum período no início do anos 60, especialmente por conta da qualificação da mão de obra japonesa e do consequente aumento do custo desses trabalhadores, a Seiko passou a implantar montadoras em outros países com a intenção de reduzir o custo final dos relógios, porém continuou projetando e fabricando muitas das peças no Japão.

Seiko SKXA35 “Movt Singapore” no mostrador. Foto: seikoclubsg.com

A realidade é que um relógio realmente produzido e montado no Japão custa muito caro, então apenas modelos Grand Seiko e alguns topo de gama da Seiko (como a LX Line) são montados lá, os demais ainda são majoritariamente desenhados no Japão, mas costumam ser fabricados e praticamente sempre montados em alguns países periféricos como Malásia, Tailândia, Singapura, Filipinas e etc. Logo, um relógio de algumas centenas de dólares, mesmo contendo a inscrição “Made in Japan” no mostrador e fundo, muito provavelmente não foi de fato montado no Japão. Partindo disso, o que faz dos relógios “Made in Japan” mais caros que os demais?

Os modelos MIJ das últimas décadas carregam a letra J no final de suas referências, como por exemplo o Seiko Samurai SRPB53J1 que comentei acima. Falamos detalhadamente desse assunto no guia para leitura de códigos e referências Seiko, inclusive ao responder a ótima pergunta de nosso amigo leitor Bruno Guimarães.

Seiko Prospex Samurai SRPB53J1 – MIJ. Foto: @SeikoPhD.

É habitual um relógio J custar de 10% a 20% a mais que um modelo K, B ou P (esses não carregam as inscrições MIJ, normalmente carregam a inscrição “Movt Japan”, ou seja, o movimento do relógio é japonês) e o motivo é o fato dele ser menos comum, geralmente ter mostrador e fundo com detalhes únicos, além de, utilizando expressão comum das Ciências Econômicas, ter maior liquidez, ou seja, maior facilidade de revenda.

Essas são características essenciais que distinguem os relógios Seiko JDM e MIJ sem “achismos” e teorias mirabolantes, apenas baseando em fatos. Em suma, os relógios JDM foram feitos para serem vendidos apenas no Japão, são mais raros e às vezes possuem características superiores se comparados com o mesmo modelo feito para o mercado global. Já os relógios MIJ possuem características exclusivas e maior liquidez se comparados a modelos “comuns”, o que chama a atenção da maioria dos usuários e colecionadores e agrega maior valor, contudo não necessariamente foi montado por mãos japonesas. O segundo idioma do calendário dos Seiko MIJ costuma vir em árabe ou algarismos romanos, sendo estes ainda mais incomuns que aqueles.

Seiko SKX173 “Movt Malaysia” no mostrador. Foto: lelong.com.my

Extra: há algum tempo a Seiko começou a lançar relógios com as inscrições “Movt Singapore” e “Movt Malaysia” no mostrador e fundo, deixando bem claro que os movimentos estão sendo produzidos de fato nesses países. Normalmente tais relógios têm vindo com o conhecido calibre 7S26 e, até que se prove o contrário, são tecnicamente idênticos aos “Movt Japan”, além de não ter havido qualquer tipo de acréscimo nos relatos de defeitos. Entretanto, percebo que esses relógios estão sendo vendidos aproximadamente 10% a 20% abaixo do preço de um “Movt Japan”, Adam Smith e o que já lemos até aqui explicam com precisão esse fenômeno.

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16 comentários em “Seiko Made in Japan – MIJ x JDM – Japanese Domestic Market

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  1. Obrigado pelo compartilhamento de aprendizado conosco Ramon. Me parece que esse assunto ficou bem claro a todos agora… Grato também pela menção honrosa no texto… Abraço!!

  2. Olá Ramon,
    Mais uma dúvida surgiu quanto ao meu relógio especificamente: Turtle srp789k1. Ele possui como segundo “idioma” nos dias da semana, além do inglês, numerais romanos. Existe alguma explicação para isso? Obrigado novamente!!

    1. Olá Bruno!

      Os calendários com algarismos romanos são bastante antigos na relojoaria, sem entrar em grandes detalhes eles são aplicados quando países de destino específicos não possuem uma segunda língua muito bem definida.

      Tradicionalmente os idiomas mais abundantes nos calendários Seiko são inglês/espanhol e inglês/francês, o inglês/kanji, inglês/árabe, inglês/algarismos romanos e inglês/português são mais raros e mais desejados. Os calendários inglês/romanos são mais comuns na Tailândia e funcionam como uma espécie de coringa para enviar os relógios a países que teriam dificuldades com os idiomas mais comuns. Fique feliz por ter essa variante de numerais romanos, inclusive existem versões MIJ com calendário ing/romanos, bem incomum e interessante.

      Uma curiosidade é que a comunidade internacional geralmente gosta dos numerais romanos, mas detesta o quadrado vermelho do domingo, de fato parece um borrão no mostrador, um VII em vermelho seria bem mais agradável rsss. Uma dúvida, como está escrito o dia 4? IV ou IIII?

      Qualquer dia escreverei de forma mais aprofundada a respeito do tema. Fique feliz por ter essa variante de calendário. Um abraço e disponha!

      1. Uhuuu!!..kkk
        Hoje chegou outro Seiko mais simples (snzg15k1) que também veio com os romanos (esse vício é perigoso..kk, mas vou dar uma segurada agora). Muito legal as informações que me passou, brigadão!! Quanto ao dia 4 estão nos 2 IIII (padrão índices no mostrador de Cartier). No domingo o bendito quadrado vermelho..kk
        Abraço!!

      2. Que legal Bruno, parabéns pela nova aquisição! Tenho visto muitos Seiko “K1” e “K2” com algarismos romanos, especialmente vindos da Tailândia. Hahaha, esse vício de adquirir relógios é perigoso, temos que saber dosar mesmo, especialmente se for casado, as esposas podem ser bastante incompreensíveis nesse ponto rsss… Um abraço!

  3. Ramon,
    Poderia falar sobre os modelos Samurai e Turtle? Gostaria de saber qual dos dois você gosta mais. Obrigado

    1. Olá Felipe!

      Escrevi um review bastante completo do Seiko Samurai SRPB53J1 há algum tempo, você chegou a ler?

      Estou concluindo o review do meu Seiko Turtle SRP775J1 e posso lhe dizer que, embora o Turtle tenha uma representatividade histórica maior (descende dos antigos Turtles de calibre 6309), o Seiko Samurai é melhor acabado em vários quesitos.

      O Samurai, inclusive, era um pouco mais caro que o Turtle até que a Seiko começou a lançar edições especiais e limitadas deste, elevou os preços e, por fim, equiparou àquele.

      Se tivesse que escolher apenas um, o que seria muito triste, escolheria o Samurai, mas veja, o Turtle é maravilhoso, design único e ótima presença no pulso. Outro ponto importante é que existem muitas versões de ambos, então uma edição básica do Samurai certamente é menos interessante que edições superiores do Turtle, aquelas que têm mostrador melhor acabado, cores menos comuns e etc.

      Se puder experimente ambos, repare nos detalhes e então decida, com certeza fará um bom negócio. Ahh, não deixe de nos contar qual foi sua escolha rsss.

      Abraço meu amigo!

  4. Boa noite Ramon, algum Seikos que são montados no Brasil, vem com a marcação B1, existe alguma diferença no que tange a qualidade comparado aos que são fabricados fora do Brasil?

    1. Bom dia Anderson! Tudo bem?
      É importante percebermos que os modelos B1 ou B2 também são fabricados fora do Brasil, por aqui eles são manuseados o mínimo possível na Zona Franca de Manaus por conta dos incentivos fiscais, ou seja, não há qualquer diferença funcional em relação a modelos K, P ou mesmo J. Alguns dizem que no Brasil apenas a pulseira e o selo do IPI são colocados no relógio, o que já seria suficiente para algo como “montado no Brasil”.
      Inclusive muitos preferem esses modelos por conta do calendário em Português.
      Por que a dúvida?

  5. Boa tarde Ramon, a minha dúvida era mesmo quanto a questão da qualidade, tenho visto o surgimento de modelos B1 sendo vendidos, mas depois da sua explicação consegui sanar minha dúvida, parabéns pela aquisição do Seiko Baby Tuna, muito bonito uma excelente aquisição, obrigado pela atenção mais uma vez.

  6. Ramon, você é um poço de conhecimento. Parabéns por toda essa grande contribuição. Neste último mês de janeiro estive no Japão e comprei 4 relógios Seiko, sendo três MODEO PRESAGE e um Seiko solar. Neles está inscrito MADE IN JAPAN. Fraternal abraço, João

    1. Agradeço a gentileza de suas palavras João e vejo que escolheu meu bem seus relógios, parabéns pelas aquisições.
      Forte abraço!

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