A restauração e o famigerado polimento de relógios são temas que dividem a comunidade internacional entre aqueles que preferem o relógio com danos e marcas de uso, mesmo que severas, e aqueles que optam por uma aparência mais nova, mesmo que para isso tenham que submeter o relógio a um processo de restauração por profissional que não vá simplesmente arredondar toda sua caixa ou substituir o mostrador por peça aftermarket.
Obviamente ambas as partes concordam que o ideal é termos o relógio original e em ótimo estado de conservação, no entanto, quantas peças se mantêm assim após décadas de uso? Pouquíssimas e aqui surge o núcleo da nossa conversa de hoje, quando realmente é interessante e até recomendável restaurar ou polir um relógio?

Quando o tempo cobrar o seu preço
Cada relógio envelhece de uma forma distinta, temos aqueles que deram a “sorte” de atravessar cinco décadas muito bem cuidados e outros que em questão de dias podem sofrer algum acidente ou acumular danos pela falta de cuidado ao longo do tempo. A verdade é que praticamente não existe mérito em utilizar um relógio em mau estado de conservação, você saberá que ele não está legal ou atraente, assim como todos ao seu redor, além de transmitir uma sensação de falta de zelo e desleixo pessoal.
Em um caso assim pode realmente haver a necessidade de manutenção e restauração do relógio. Entregar aquela peça deteriorada a um profissional de confiança e receber seu relógio parecendo ter acabado de sair da loja pode trazer uma sensação indescritível. Sou apaixonado por relógios vintage, entretanto eles precisam estar em um estado mínimo de conservação. Marcas de uso, como pequenos arranhões, são normais e toleráveis, especialmente quando o modelo já acumula alguns anos (ou décadas) de uso, por outro lado, pouco ou nada adianta, principalmente do ponto de vista do colecionismo, estar com um relógio no pulso que parece ter sido atropelado por um trator!

Os tais acidentes
Acidentes acontecem. Ouvimos essa máxima inúmeras vezes ao longo dos anos, contudo me parece que quanto mais acumulamos experiência de vida, mais certeza temos de que grande parte desses acidentes poderiam ser evitados. Certamente há aqueles irremediáveis e nessas situações, dependendo da gravidade do dano, uma restauração pode atenuar consideravelmente a aparência desse triste episódio e reduzir significativamente a sensação de dor ao olharmos para aquelas marcas. Existem casos onde “verdadeiros milagres” são feitos e o relógio volta à aparência de novo, daí a necessidade de nos atentarmos para o próximo tópico.
Profissional qualificado
É imprescindível que o serviço de restauração seja executado por um profissional que, de fato, saiba o que está fazendo. Pegar uma broca, desbastar a caixa do relógio e deixá-la completamente arredondada e espelhada é muito fácil, o problema é que algumas das principais características daquela peça são permanentemente removidas nesse processo. Procure um profissional qualificado e que execute o serviço com responsabilidade, certamente não será o preço cobrado pelo “arredondador de caixas”, mas o investimento se pagará com o tempo, seja através do belo relógio no pulso ou de uma futura venda – neste caso faça a gentileza de informar que o relógio foi restaurado.

Relógio especiais e históricos
Existem relógios que merecem ainda mais ser restaurados, especialmente se estiverem em péssimo estado de conservação. Quando corretamente restaurados os relógios tidos como especiais (seja por algum fator histórico, design exclusivo ou calibre superior) agregarão grande valor, ocorrendo algo muito parecido ao que estamos acostumados a ver nos programas oriundos do mercado norte americano onde são exibidas restaurações completas de carros e motos totalmente devastados pelo tempo e mau uso. Ao final do processo eles terão o mesmo valor de um modelo em mint condition? Certamente não, mas valerão mais e poderão voltar a prestar seus serviços com graça e elegância, eles merecem!
Já quando falamos em alguns relógios históricos com o Tensoku utilizado por pilotos kamikazes da Segunda Grande Guerra, sem dúvida alguma não devem ser restaurados, pois aqueles danos e desgastes são parte da história da humanidade, acabam por agregar valor à peça e merecem ser, assim, preservados e devidamente expostos.

Opiniões divergentes
Por fim, quero novamente destacar que não há virtude alguma em utilizar um relógio, carro ou mesmo um móvel doméstico mau conservado apenas por ser antigo, ao contrário do que pode ser erroneamente deduzido de alguns programas norte americanos. Estou convencido de que esse pensamento é muitas das vezes utilizado como desculpa por pessoas pouco zelosas, além disso precisamos nos lembrar da relevante diferença existente entre uma peça vintage e uma antiga, essas palavras não são sinônimas.
Noutra extremidade do globo temos um pensamento bastante diferente e que me parece mais coerente, de maneira geral os japoneses e outras nações asiáticas não utilizariam um relógio vintage em mau estado de conservação, eles compram um bom relógio ou facilmente optam pela restauração feita por um profissional qualificado.

Portanto, caso você queira um vintage realmente original, procure um modelo bem conservado, mesmo que para isso leve meses ou anos. Do contrário, sem dúvida alguma, é melhor restaurar aquele relógio pouco cuidado e ter a chance de vê-lo novamente em grande forma.
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Bom dia, Ramon. Artigo sensacional!! Como vc sabe, tive um Helmet de 1977 totalmente original, digamos que poderia até ser um Mint Condition. Eu restauraria um Bullhead ou Monaco, se encontrasse em boas condições. Abs! Bom fim de semana!
Eu me recordo daquele Helmet, realmente um mint, extremamente bem cuidado pelo primeiro dono.
Você restauraria um Monaco ou Bullhead mesmo estando em boas condições? Prefere que pareçam realmente novos?
Muito obrigado pela gentileza meu amigo, fico feliz que tenha gostado. Abraço!
Mais um excelente post Ramon, obrigado! Tenho um Turtle 6309 que foi do meu pai, usou mais de 20 anos, praticamente sem tirar do pulso. Infelizmente o relógio sofreu uma manutenção e restauração inadequada em 2000, eu gostaria de restaurar o mesmo a altura que merece. Qual a sua recomendação? Desde já agradeço e parabenizo pelo trabalho que você faz!
Olá José Inácio! Tudo bem meu amigo?
Sinto muito pela restauração inadequada pela qual seu 6309 passou, ainda mais com o histórico de ter sido do seu pai. Bem, o ideal é procurar um restaurador que saiba o que faz e que tenha experiência no mercado. Você já leu o artigo que postei há poucos dias em que trato da restauração parcial do meu Seiko Pogue? Acesse aqui para ler, lá tem o contato do relojoeiro Wilton Miyamoto de São Paulo, entre em contato com ele, diga que lhe indiquei, acredito que possa lhe ajudar.
Obrigado pela gentileza meu amigo e volte mais vezes. Forte abraço!
Ótimo artigo como sempre Ramon, muito esclarecedor. eu também restauraria se tivesse bem ruim. Parabéns e forte abraço!
Agradeço a gentileza e por compartilhar sua opinião meu amigo, forte abraço!
Salve meu amigo Ramon!
Só pra variar, outra excelente matéria por aqui!
Creio que esta seja a “mãe” de outras matérias vindouras pertinentes ao vastíssimo tema.
Realmente divide a comunidade internacional e parece piada né, só que não.
Permita-me o adendo, mas nesta divisão também se incluem os que fazem por gosto, paixão pelo trabalho, os que simplesmente querem o relógio novo (e fazem mesmo que não precise), os perfeccionistas com TOC que não podem ver o esboço de um risquinho e assim vai até os que fazem por hobby como este pobre mortal que vos escreve e passa longe de ser um profissional da área.
E além disso tudo, ainda vem o dilema pós restauração, como diria Shakespeare; “To use or not to use, that is the question” e assim os heróis ganham novas cicatrizes.
Well, como disse, o assunto rende, rsss.
Muito obrigado por abordar o assunto e compartilhar o conhecimento!
Forte abraço.
Tem toda razão Junior, esse tema é incrivelmente vasto e passa por muitos outros tópicos que são passíveis de abordagem em outros artigos.
A questão de usar, não usar ou ainda usar pouco é bem interessante e poderia ser abordada futuramente.
Agradeço suas gentis palavras e muito obrigado por sempre enriquecer nossos artigos meu amigo.
Forte abraço!
Excelente matéria, Ramon !
Sou adepto da restauração. Um relógio é “vintage” pelo seu design, que define um modelo lançado numa época passada. Não considero que arranhões ou outras marcas de uso atribuam maior valor estimativo para um colecionador. Para mim, ter um relógio lançado a décadas, funcionando, e com aparência de novo me traz satisfação.
O mais importante, como bem frisou no artigo, é ter um profissional qualificado, capaz de executar o serviço. Normalmente não são serviços baratos. Mas vale muito a pena !
Obrigado pelos excelentes artigos !
Forte abraço
Arnaldo Bittencourt Filho
Obrigado pela gentileza Arnaldo, um bom profissional realmente faz toda diferença.
Forte abraço meu amigo!
Ótimo artigo, Ramon.
O assunto foi abordado de forma bem clara , mencionando os pontos que devem ser considerados a um serviço como esse.
Parabéns por mais uma matéria relevante aos entusiastas e apreciadores dos relógios.
Muito obrigado Will!
Fico feliz que tenha gostado meu amigo.
Forte abraço!
Caro Ramon,
boa noite!
Eu não gosto de relógios polidos, prefiro os modelos originais e faço como você descreveu no texto, quando o relógio não está como eu gosto eu não compro, vou para o próximo. Ótimo texto como sempre, abraço meu amigo!
Olá Caetano! Tudo bem?
Sem dúvida essa é a melhor maneira de agir quando se deseja um relógio completamente original.
Obrigado meu amigo e um forte abraço!
Peguei 23 relojos 3orient 2seiko,6119,1technos,1citizem,mais 16 relojos barato Ching ling,coloquei numa lata com água de bateria, deixei,por 10 anos lá no soton tirei da lata no ano 2020,todos relojos derreteram ,menos o seiko ,o Citizen,e otechnos,o resto virou uma gracha preta ,falo e provo ,
Experiência curiosa meu caro.