Relógios com revestimento preto estão em alta no mercado global há alguns anos. Muitos consumidores amam, alguns desgostam, todavia há uma importante parcela do mercado que posusi certo receio quanto à durabilidade da “camada preta” aplicada sobre o metal e, por conta disso, evita adquirir esses produtos.
Tal temor encontra respaldo no início da história dos relógios pretos quando, ainda no ano de 1972, a Porsche Design apresentou o primeiro relógio do mundo recoberto por uma tintura escura. Os modelos apresentados nos primeiros anos se deterioravam em pouco tempo, exibindo danos que expunham a estrutura metálica sob o revestimento e demonstravam a fragilidade do acabamento da época.

Com o avançar das décadas a tecnologia evoluiu e hoje os relógios Seiko com revestimento preto, como a Seiko Black Series que comentei em dezembro do ano passado, utilizam a sofisticada tecnologia PVD, uma abreviação para Physical Vapor Deposition ou deposição física de vapor.
Esse processo é uma variedade da deposição a vácuo e pode ocorrer de diversas formas como vapor por feixe de elétrons, laser pulsado, arco catódico e outros termos técnicos que não nos interessam a priori. O método mais comum consiste na transformação de nano ou micro partículas sólidas de metal condensado (aço inoxidável ou titânio) em vapor dentro de um ambiente de altíssima temperatura e vácuo.

Normalmente é utilizado um potente spray de plasma que converte o metal do estado sólido para o gasoso, depois disso um jato desse gás é lançado sobre o metal (caixa do relógio ou pulseira, por exemplo), o que faz com que retorne ao estado sólido condensado e una-se firmemente ao metal de destino em uma espessura que varia de 0,25 a 5 mícrons.
Os revestimentos de PVD atuais são rígidos e resistentes à corrosão, ao impacto, à abrasão e são tão duráveis que dispensam revestimentos de proteção como ocorria décadas atrás quando aplicavam simples camadas de tinta escura sobre os relógios.

Esse processo tem garantido uma aparência impecável e uma qualidade bastante duradoura aos relógios. Eu mesmo já fui bastante cético em relação aos modelos com revestimento preto até que fui convencido após algum tempo de estudo e resolvi adquirir o Seiko Monster SRP315 com seu bezel e coroa revestidos em PVD.
A comprovação empírica da qualidade desse revestimento se deu quando percebi que já usava o relógio há quatro anos sem um arranhão sequer no bezel, uma área bastante suscetível a choques. Claro que sou bastante cuidadoso e acostumado a usar relógios, entretanto, vez ou outra algum pequeno esbarrão acontecia e me conduzia imediatamente a observar – aliviado – a ausência de riscos.

A impressão que tenho atualmente é de que o bezel puramente em aço inoxidável, como do Seiko Orange Monster, é mais suscetível a danos do que um com revestimento PVD, pois o adquiri mais recentemente e já possui alguns riscos mínimos, mesmo sem me recordar de tê-lo esbarrado em algo. O revestimento PVD tem crescido em meu conceito e atualmente a única resistência está no gosto pessoal, uma vez que nem sempre esses relógios me agradam.
A manutenção desse material é bem simples, bastando um pano macio, água e sabão neutro (uso sabão de coco) para remover alguma sujeira acumulada. DE FORMA ALGUMA utilize produtos voltados para a remoção de manchas, ferrugens, alvejantes ou que contenham qualquer agente cáustico.

Seguindo essas dicas seu relógio certamente perdurará por décadas e manterá a festejada estética do revestimento PVD. Em breve farei um comparativo entre PVD e DLC, aguarde. E você, tem ou teria algum relógio com esse tipo de revestimento? Comente abaixo.
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Tinha certa desconfiança da durabilidade desse revestimento. Agora já não tenho tanto kkk
Porém, devido a gosto pessoal, não pretendo adquirir um preto por enquanto.
Perfeitamente compreensível João, também desconfiava bastante, além de não considerar todos os modelos atraentes, mas do ano 2000 e pouco para cá a Seiko lançou excelentes relógios com esse revestimento, alguns realmente bonitos, estou concluindo o review do Turtle Black Series que é, no mínimo, lindo! Grande abraço!
Bom dia, Ramon. Possuo um Citizen Marine Sport em PVD há 2 anos, não há nenhum detalhe aparente, já no Turtle Padi que tenho, possui alguns “micro-riscos”. Não sei se a Citizen possui a mesma qualidade e processo químico da Seiko, mas pelo menos está “inteirão” ainda. E também sou assim, qualquer esbarrão ou batidinha, imediatamente já olhamos um nosso amigo se teve algum dano ou risco. rsrsrsr. Abraço.
Bom dia Carlos! Tudo bem meu amigo?
Sim, a Citizen também utiliza a tecnologia PVD em seus relógios, o que garante uma durabilidade muito boa nos dias atuais. Pois é, a indústria do aço está um pouco estagnada nessa questão dos riscos, ao meu ver precisam ou melhorar o aço ou adicionar algum tipo de revestimento inoxidável que aumente a resistência aos esbarrões.
Os primeiros riscos doem bastante hahahaha! Abraço!
Sem querer me meter na conversa dos amigos, mas uma possibilidade seria fazer algum tratamento térmico ou termoquímico na superfície do aço (ao menos nas partes mais suceptíveis a riscos, tal como o bezel), similar ao que ocorre em algumas ferramentas. Creio, porém, que, assim como nas ferramentas, o custo não seja tão atraente. Já viram a diferença de preço de uma broca comum e uma broca nitretada (aquela de ponta dourada)?
Quem sabe no futuro né kk
Bem lembrado João. Na verdade o aço inox (como todo aço) passa por um processo de altas temperaturas para enrijecê-lo, mas ainda acho pouco eficiente para nossa atual realidade.
A nitretação é um fenômeno muito interessante e se associa ao DLC que comentei no final do artigo acima. Futuramente compararei os dois e essa pode ser uma alternativa mesmo, porém, como bem colocou, encarece demasiadamente o processo de fabricação além de adicionar aspecto e cores diferentes, não fica aquele aço lindo e polido, contudo pode ser uma questão de tempo e evolução, não é mesmo?
Então, nesse sentido, teríamos dois caminhos a seguir para aumentar a resistência a riscos: 1. melhorar o aço; 2. recobri-lo com algo mais rígido como o PVD ou DLC.
Particularmente gostaria de ver um aço melhor e mais resistente sem algum tipo de revestimento, mas nesse ponto meu campo de pesquisa para e me falta conhecimento para prosseguir.
Tenho um amigo que trabalhou com metalurgia/usinagem na Vale e vez ou outra comenta da qualidade do aço da Seiko, ele possui vários relógios, mas a maioria Seiko e um dos motivos dessa escolha é o aço. Interessante esse ponto de vista de quem enxerga o metal de outra forma, vou comentar com ele nossa conversa, talvez possa acrescentar algo.
Ótima colocação meu amigo, abraço!
Que legal, Ramon. Perto do seu amigo não sei grande coisa kkk tenho conhecimento teórico apenas, da época da faculdade.
Outra opção é boretar o aço (também tratamento termoquímico), com a vantagem de não criar aquele aspecto dourado da nitretação. Outra seria temperar superficialmente, o que já é feito em engrenagens, cames, parafusos e outros. É um processo mais barato. De todo modo, esses tratamentos deixam a superfície mais dura, menos suceptível a riscos, mas impediriam polimento futuro.
Abraço!
Não seja modesto João rsss Você entende muito da área.
No caso mais econômico, da têmpera superficial, você comenta que esse processo impediria um polimento futuro por conta da remoção dessa camada ao polir o metal?
Isso, Ramon. Esses tratamentos que citei criam camadas mais duras na superfície do aço. Ao polir essas superfícies (que acho que já seria bem difícil, pois polir algo muito duro é bem difícil e muitas vezes inviável), essa camada seria desgastada e o aço ficaria “nu”. Julgo que a cor, o brilho e a uniformidade de cor e brilho das diversas partes do relógio seriam prejudicados.
Ahh, e eu não sou entendo tanto assim dessa área não. Tenho conhecimento bem básico na verdade kkk
Faz todo sentido mesmo João, só não sei que tipo de têmpera a Seiko utiliza em seus relógios. É o tipo de informação que realmente não é divulgada, mas acredito que haja uma ótima têmpera a enormes temperaturas. Abraço!
Boa tarde, Ramon. Tenho um “Ninja Turtle” (SRPC 49b1) há quase um ano e ainda sem sinal de riscos. Aliás, há algumas semanas eu esbarrei na quina de um armário e, após um instante de terror, percebi que tinha arrancado uma boa lasca da madeira e que no relógio estavam apenas algumas ferpas no encaixe do insert do bezel. Não ficou qualquer marca do acidente. Estou bem contente com o material da caixa, mas, como você disse, tento ser muito cuidadoso com meus relógios. Um abraço!
Boa noite Marcus! Que alívio hein? Arrancar pedaços de madeira e não danificar o relógio é realmente uma ótima notícia. Tenho visto bons relatos como o seu confirmando a qualidade desse revestimento.
Abraço e parabéns pelo lindo relógio!
Bom dia!
Parabéns pela matéria! Excelente!
Tenho um pouco de conhecimento prático. Enxergo o aço por dentro, como sendo uma liga metálica composta essencialmente de ferro e carbono, mas com uso variado de outros metais como magnésio, cromo, vanádio, tungstênio, níquel, cromo, etc. Acredito que a Seiko tenha uma receita de aço bem guardada, assim como minha avô tem a sua receita de bolo caseiro. No processo de fabricação do bolo (digo aço) ainda acontece adição do enxofre, fósforo e outros, sendo nesse processo manipulado intencionalmente para melhorar as propriedade do aço: dureza, ductibilidade, resistência, etc. A proporção ou quantidade de cada metal, assim como o processo de fabricação do aço em si, são importantes para se obter o produto final desejado.
É para mim a verdadeira arte da metalurgia. Semelhante da Lâmina da espada Katana feita pelo mestre armeiro do Japão.
Bom, evidente que a escolha do tipo do aço tem muito a ver com a resistência aos riscos e à oxidação ao longo do tempo. Mas devemos entender que quando se manipula uma propriedade do aço de um lado (tipo a dureza) ele perde outra propriedade do outro lado (fica quebradiço, por exemplo). Então, toda manipulação nas propriedades do aço deve ser bem estudada. Não valerá a pena ter um aço resistente a riscos que se quebre numa queda ao solo. Na metalurgia as ferramentas mais duras (resistentes a riscos), para se usinar aço, quebram-se numa simples queda da mão.
Bom, tiro o chapéu para Seiko e para os grandes fabricantes de relógio. Acredito que para eles, além da escolha das propriedades do aço é igualmente importante a escolha do revestimento anti oxidante, de resistência à ferrugem. Me arrisco a dizer que a seiko e demais fabricantes de relógio se preocupam tanto com a qualidade do aço, quanto com o revestimento desse aço, ou seja, o tratamento anti ferrugem. E que tal preocupação é tão importante quanto a máquina do relógio, a ponto das fábricas como a Seiko e a Rolex investirem tanto na fabricação própria do aço que utilizam na caixa dos relógios. Há uma propaganda da Seiko de um de seus relógios em que luta se vê um guerreiro com a Katna empunhada pronto para o combate. Associar a Katana com o relógio diz tudo, pois a Katana é simbolo de excelência da fabricação do aço para os orientais…..rsrsrsrs
No mais, sempre vou preferir a caixa que aparenta ser aço nos meus relógios. Coisa minha. Minha preferência, além de visual, tem base no tato, na pegada. Minhas ferramentas do saudoso tempo em que trabalhei na usinagem (década de 70) eram 100% feitas de aço (até o cabo). Prefiro o relógio com aparência de aço. Por dentro e por fora…
Bom dia Tarcísio! Muito obrigado por tirar um tempo, mesmo em meio às suas férias, para responder com tanta propriedade nosso artigo. Falava aqui com os amigos João e Carlos sobre as questões do aço e que você certamente teria muito a acrescentar.
Em momento algum atinei para a questão de se tornar quebradiço conforme se enrijece, mas faz todo sentido! No artigo que tratei dos tipos de cristais que revestem os relógios acabei citando que a safira, embora seja a mais resistente a riscos, quebra com maior facilidade, assim como o diamante – a pedra mais rígida que temos na natureza.
Realmente interessante essa perspectiva e, de fato, não vale a pena sacrificar a resistência a impactos em prol de se evitar riscos. Não consigo imaginar um relógio Seiko cair no chão e a caixa quebrar ao meio.
Essa propaganda da Seiko com a Katana provavelmente é da Série Ananta, são relógios realmente lindos com design inspirado nessas espadas. Forte abraço!
Caro amigo, Ramon, esse problema que você citou (ser resistente a riscos, porém frágil) é o “calo” dos bezeis cerâmicos. Já li em alguns fóruns que proprietários quebraram o bezel cerâmico de relógios bem caros (Rolex, por exemplo) com quedas relativamente pequenas. Algo que não acontece com um bezel em aço.
É verdade João, bezel de cerâmica se quebra muito facilmente mesmo, às vezes um esbarrão é suficiente, mas aquele brilho sensacional compensa o risco rsss
Belo texto, Tarcísio. Parabéns!
Concordo plenamente com o posicionamento do amigo. Realmente não vale nada a pena sacrificar a resistência a choques pela resistência a riscos, no caso dos relógios. Mas é nesse ponto que os tratamentos superficiais entram com maestria. Através deles se cria um aço bastante dúctil no interior e muito duro superficialmente, agregando o melhor dos dois mundos. Por isso são processos tão utilizados em engrenagens, cames, ferramentas, etc.
Compartilho o gosto do amigo. Pra mim não há nada mais belo que um aço (ou metal em geral) de cor prata, bem polido ou bem escovado. Particularmente, não gosto de relógios (nem detalhes) em preto ou dourado.
Abraço!
Olá Ramon, boa tarde. Gostaria de agradecer por suas matérias que tem me dado muito conhecimento, virei fã e já estou no Facebook com vocês. Gostaria de tirar uma dúvida, comprei um Seiko Turtle SRPD11B1 e gostaria de saber se ele tem esse tratamento black pdv na caixa e pulseira. Pode me ajudar, por favor? Obrigado.
Obrigado meu amigo, é ótimo tê-lo conosco aqui no site e no grupo Seiko Brasil.
Você está correto, o SRPD11 recebe o revestimento em black PVD da Seiko. Parabéns pela aquisição, é um belíssimo relógio. Forte abraço!
Bom dia Ramon, eu “descobri” seu site recentemente então tudo é novidade para mim, comecei a me interessar por relógios mecânicos a menos de um ano e estou me deliciando com as postagens, mesmo as mais antigas.
Sobre o PVD, conheci recentemente esse processo num site gringo como IP – Ion Plating, que seria o bombardeamento de íons formando um filme sobre uma superfície, o mesmo PVD.
Lendo os comentários dos amigos (verdadeira aula) me surgiu a ideia de um processo de têmpera semelhante a aqueles parafusos azulados dos skeletions, imagina o quão resistente e belo seria uma caixa e/ou bezel tonalizado somente pela alta temperatura, acho que seria interessante, (mas se ninguém tentou até hoje é porque não funciona, ou não pensaram nisso, sei lá kk.
Um abraço meu amigo, e bom final de semana!!!
Olá ADG! Tudo bem?
Fico feliz que esteja aproveitando o Seiko PhD e nossa ideia é construir esse conteúdo exatamente para poder ser revisitado, então não há qualquer problema em realizar perguntas nos artigo mais antigos, pelo contrário, eles continuam “vivos” como o postado na última sexta-feira.
A ideia é boa e a Seiko vem utilizando em seus relógios têmperas e aços diferentes ao longo da história, essa é outra vantagem de dominar totalmente a cadeia de produção dos relógios. O problema de endurecer demais um material é que, apesar dele ser tornar menos susceptível a riscos, ele se torna mais quebradiço, então o equilíbrio precisa ser encontrado e não é uma tarefa simples, mas a ideia é ótima.
Forte abraço!